Foto: Reprodução
Trinta e Três dias após cair do muro lateral ao Viaduto da Gare, em uma das noites da Calourada de Inverno, o universitário Cristian dos Santos, 31 anos, recebeu alta do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) na última terça-feira (12). Na tarde deste quinta-feira (14), o estudante conversou com o Diário, por telefone, de sua casa em Rosário do Sul.
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No mesmo dia, Cristian retornou para sua cidade natal, Rosário do Sul, com sua mãe e seus irmãos, em um veículo da Secretária de Saúde de Santa Maria. Pelos próximos seis meses, a cidade será novamente o seu lar, onde ele pretende se recuperar e contar ainda mais com o carinho da família e dos amigos.
Ele retornará ao Coração do Rio Grande somente em meados de março, para passar por novas avaliações pelos médicos que lhe cuidaram e saber quais os próximos passos a serem tomados.
A queda de Cristian foi no dia 9 de agosto. Ele foi socorrido pelo Samu e encaminhado ao Husm, onde ficou internado por mais de um mês, sendo 19 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ali, foi submetido a duas cirurgias delicadas devido ao traumatismo craniano que sofreu do lado direito da cabeça. Além disso, quebrou a clavícula no lado direito e um dedão. Questionado sobre o momento da queda, ele conta que não lembra como aconteceu:
– Eu não lembro de nada. Nem como eu fui, o que aconteceu, como eu caí. Também não lembro da UTI do hospital. Tudo o que lembro é baseado nos relatos da minha família.
Após semanas em coma induzido, Cristian acordou. Sem entender onde estava e o que estava acontecendo. Foi um sentimento estranho, que lhe assustou.
– Achei que estava sonhando, na verdade. Lembro que acordei, olhei para a minha mãe e eu não sabia por que ela estava ali. Uns dias antes, eu tinha saído de Rosário para aproveitar a Gare, já que o semestre estava começando. Foi tudo muito estranho - conta.
Em decorrência do traumatismo sofrido na cabeça, os médicos aplicaram uma prótese craniana, feita de pele. A recuperação está sendo tão rápida que ele não usa um curativo sequer. O último curativo, de um catéter usado no pescoço, foi retirado.
Os outros ferimentos também estão sarados. Somente a pulseira do hospital ainda estava em seu pulso, mas ele confessa que já fez questão de retirar.
– Só não consigo levantar meu braço direito muito alto. Aí sinto uma dorzinha. Mas tirando isso, tá tudo certo - relata.
O que permanece são alguns remédios, que antes eram ingeridos via catéter. Agora, são tomados de uma forma menos desconfortável, todos via oral.
Segundo o estudante, os médicos haviam comunicado à família que ele retornaria "a uma vida normal" no prazo de um a dois anos, aproximadamente. Mas em um pouco mais de um mês, Cristian saiu do hospital caminhando, falando e brincando. Sem qualquer restrição alimentar.
– Acredito que existem coisas que ultrapassam o limite da medicina. Acredito que a fé de todos tenha me ajudado muito, além de toda a energia positiva que me mandaram. Quando eu tive acesso ao celular, consegui ler algumas mensagens e recebi um carinho enorme. Isso contribuiu, sim, para que eu me recuperasse em menos tempo - revela.
Na falta da racionalidade, a fé. Criado em um ambiente religioso, ele acredita que assuntos que fogem à lógica ajudaram na sua recuperação, além do trabalho incansável de toda a equipe médica que lhe cuidou.
– Sou membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias. Os homens, neste caso, possuem o sacerdócio e têm autoridade para dar aos outros a bênção da saúde. Meus irmãos, diariamente, me davam uma bênção para eu melhorar – conta.
Estudante do 3º semestre do curso de Teatro (Licenciatura) na UFSM, Cristian terá aulas à distância pelos próximos meses. Antes, estudou Jornalismo na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em São Borja, por seis semestres, até que a pandemia teve início, em 2020, e ele trancou o curso. Mas sua relação com o jornalismo continua: ele é repórter e redator do Jornal Gazeta de Rosário.
– Minha chefe me acompanhou a todo momento. Já conversamos e alinhamos como será minha nova forma de trabalhar, vamos se adaptar, pois preciso evitar o uso excessivo de computador e celular. Trabalhando com notícia, fica difícil, né? - diz.
Do signo de virgem, Cristian completará 32 anos no próximo domingo, dia 17 de setembro. Questionado se recebeu uma segunda chance neste momento, ele finaliza:
– No fim de semana, terá uma festinha aqui em casa, porque agora as pessoas querem que eu comemore dois aniversários. Então, será uma festa para comemorar o aniversário e a retomada da minha vida.