O submundo lucrativo por trás das grades: como os presos financiam facções e armamentos

O submundo lucrativo por trás das grades: como os presos financiam facções e armamentos

Foto: Maria Júlia Corrêa

Delegado Marcelo Mendes Arigony concedeu entrevista à reportagem do Bei

Em uma entrevista à reportagem do Bei, o delegado Marcelo Mendes Arigony, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Santa Maria, falou sobre os casos de homicídios nos primeiros meses de 2024 na cidade. Além disso, o delegado abordou o movimento de silêncio da Polícia Civil no Rio Grande do Sul, ressaltando a busca por valorização e dignidade para a categoria.


No período de janeiro e fevereiro deste ano, Santa Maria registrou um total de 16 homicídios, dos quais 15 foram assassinatos e um ocorreu durante um confronto com a polícia envolvendo um jovem foragido. Recentemente, em 3 de março, um homem foi morto a facadas na Rua São Gabriel, no bairro Urlândia, elevando o número total de mortes para 17. Comparando com o mesmo período em 2023, a cidade contabiliza um aumento de 112,5% nos casos de homicídios.


O delegado Arigony também falou sobre o movimento de silêncio adotado pela Polícia Civil em protesto contra a falta de valorização da categoria. Ele destacou que, apesar do movimento, a equipe da DPHPP continuou trabalhando incansavelmente, inclusive realizando 46 mandados de busca e apreensão relacionados aos homicídios.


Durante a entrevista, Arigony informou que dos 17 homicídios deste ano, apenas 3 estão sem identificação dos autores, mas acredita-se que serão elucidados em breve. Ele ressaltou que a comunidade tem desempenhado um papel crucial, fornecendo informações que contribuíram para o esclarecimento de diversos casos, inclusive o da morte de um idoso de 71 anos na tarde de 22 de fevereiro, na Rua Ângelo Uglione, no Centro de Santa Maria. O autor do homicídio foi identificado após a divulgação das imagensatravés da imprensa, o que levou a polícia chegar até o homem. Embora ainda não tenha sido detido, o mandado de prisão já foi feito por parte da Polícia Civil, que aguarda o deferimento do Poder Judiciário.


O delegado também abordou a complexa questão do sistema prisional, apontando que muitos dos homicídios estão relacionados a facções e ao tráfico de drogas, sendo os celulares dentro das prisões um elemento-chave para a perpetuação do crime. Ele expressou a necessidade de um enfrentamento mais efetivo dessa questão, visando transformar as prisões em locais dignos e não como centros de recrutamento para organizações criminosas.


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Arigony também abordou de maneira enfática os desafios e reflexões sobre o sistema prisional brasileiro. Ele ressaltou a necessidade de cumprir as penas com dignidade, mas também de impor condições que restrinjam a comunicação dos detentos para conter o avanço do crime organizado.


- O preso tem que cumprir pena com dignidade, ter lugar para dormir, para comer, para estar ali e "puxar" a cadeia com tranquilidade, conforme previsto na legislação. No entanto, não podemos permitir que ele mantenha atividades ilícitas de dentro das prisões, como a venda de objetos internamente - explica Arigony.


O delegado criticou a facilidade com que os presos conseguem comercializar produtos dentro das galerias, mencionando a entrada regular de um caminhão que abastece as celas com diversos itens, transformando esses locais em verdadeiros centros de negócios clandestinos.


- Enquanto estamos sendo pressionados para mudar nossa forma de trabalho e focar em inquéritos de lavagem de dinheiro, a realidade é que a própria estrutura prisional permite que os presos realizem atividades comerciais. Eles geram dinheiro, que é usado para fortalecer facções, comprar armamento, alugar casas e até adquirir estabelecimentos comerciais na sociedade. 


Arigony destacou a necessidade de uma abordagem mais ampla na questão da segurança pública, envolvendo diversos atores sociais. Ele reconheceu que a Polícia Civil desempenha um papel fundamental na busca por autoria e materialidade dos crimes, mas salientou que são apenas um dos muitos componentes desse complexo cenário.


- A Segurança Pública é um desafio que envolve vários atores sociais, e nós, da Polícia Civil, chegamos depois que o fato ocorreu, buscamos autoria e materialidade para encaminhar ao Poder Judiciário. Precisamos de uma concentração de esforços, não só na repressão, mas também na prevenção e, especialmente, na transformação do sistema prisional para cortar o ciclo do crime organizado.


O delegado encerrou a discussão reforçando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para enfrentar os desafios da segurança pública e do sistema prisional, ressaltando que a Polícia Civil, apesar de sua importância, não pode resolver essas questões sozinha.


Arigony revelou que, apesar dos desafios, a taxa de elucidação de casos de homicídios em Santa Maria é historicamente alta, 76.47% em 2024 e aproximadamente 96.36% em 2023, evidenciando o trabalho incansável da Polícia Civil na resolução desses crimes. 

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