
Foto: Rafael Menezes
O delegado Fernando Antônio Sodré de Oliveira foi exonerado do cargo de chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira (9). Para o seu lugar, foi nomeado o delegado Heraldo Chaves Guerreiro, que até então atuava como subchefe da corporação. A delegada Adriana Regina da Costa, inicialmente cogitada para assumir a chefia, será a nova subchefe, em razão de questões de saúde que impediram sua indicação principal.
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A saída de Sodré ocorre em meio a uma crise interna que ganhou força após a decisão da delegada Cristiane Ramos, diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam), de colocar o cargo à disposição na quarta-feira (8). Cristiane tomou a decisão depois de um episódio polêmico envolvendo o próprio Sodré: na sexta-feira (2), ele realizou uma visita ao plantão da 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e teria feito cobranças incisivas sobre a divulgação na imprensa de dados referentes às desistências de registros de ocorrência por parte de vítimas.
Segundo foi noticiado, mais de 300 mulheres teriam deixado de formalizar queixas na 1ª Deam devido à demora no atendimento, motivada pelo número insuficiente de policiais de plantão. Após o episódio, na quinta-feira (8), a Associação dos Delegados de Polícia do RS (ASDEP) divulgou uma nota manifestando apoio à delegada Cristiane Ramos, criticando a forma como ela foi repreendida publicamente pelo então chefe da Polícia Civil.
Fernando Sodré, que assumiu o cargo em fevereiro de 2023, entrou para a história como o primeiro delegado autodeclarado negro a comandar a Polícia Civil gaúcha em seus 181 anos de existência. Durante sua posse, destacou que sua nomeação simbolizava um passo importante no enfrentamento ao racismo estrutural e na valorização da diversidade institucional.
Com 58 anos e natural de São Paulo, Sodré ingressou na Polícia Civil do RS em 1998 e ocupou diversas funções de liderança, como a direção do Departamento de Polícia do Interior. É formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e em Direito pela Universidade de Caxias do Sul, além de estar cursando doutorado em Direitos Humanos.
Nota de apoio e solidariedade da ASDEP
A direção da Associação dos Delegados de Polícia do RS – ASDEP/RS – manifesta sua solidariedade à Delegada de Polícia Cristiane Ramos, que decidiu colocar à disposição da Administração da Polícia Civil a função que exercia como diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher – DIPAM até o episódio ocorrido recentemente, quando foi admoestada em público após a imprensa divulgar que mais de 300 mulheres deixaram de registrar ocorrências pela demora no atendimento, motivada pelo reduzido número de policiais de serviço na 1ª DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.
É lamentável que uma profissional qualificada como a Dra. Cristiane Ramos, com larga experiência na matéria, especializada em “Enfrentamento à Violência contra a Mulher” pela Universidade Federal de Goiás, mestranda em “Segurança Cidadã” pela UFRGS com foco em feminicídios e integrante do Comitê “Em Frente, Mulher” do governo do Estado esteja se afastando do órgão especializado na proteção das mulheres vítimas, pelo constrangimento sofrido e por não se sentir prestigiada. Soma-se a isso o fato de que a Delegada de Polícia Carolina Funchal Terres, que chefiava o Plantão da 1ª DEAM, entrou em licença médica, aparentemente em razão do mesmo episódio, fatos que poderão trazer prejuízos no combate à violência contra as mulheres.
Em face do exposto, a ASDEP reitera sua expectativa de que o governo do Estado promova a devida valorização dos profissionais que atuam nessa área tão sensível, suprindo, o quanto antes, as necessidades materiais e humanas dos órgãos policiais especializados em oferecer a necessária segurança às mulheres.
Guilherme Yates Wondracek - Presidente da ASDEP-RS