Caso Gabriel: veja o que dizem as defesas dos PMs acusados de matar jovem em São Gabriel

Caso Gabriel: veja o que dizem as defesas dos PMs acusados de matar jovem em São Gabriel

Foto: Maurício Barbosa (Arquivo/Diário)

Presos desde agosto de 2022, o 2° sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen e os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima são réus do caso que deixou a pequena São Gabriel em choque. Acusados da morte de Gabriel Marques Cavalheiro após uma abordagem, eles respondem por homicídio triplamente qualificado na Justiça Comum. 

Dois anos depois, o caso avança com novos desdobramentos. Questionados pela reportagem, as defesas contam quais as expectativas para o julgamento e contam detalhes sobre a vida dos familiares dos PMs após o crime.

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Para Vânia Barreto, defesa dos soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima, não há outra solução a ser dada além da absolvição:

— Os acusados não praticaram o homicídio, não mataram Gabriel. [...]  Qualquer solução diversa, será contrária à prova dos autos. A expectativa dos soldados é na mesma linha, eles têm convicção de que serão absolvidos, porque não mataram Gabriel.

O trio de policiais está preso no Presídio Militar em Porto Alegre desde que o corpo de Gabriel foi encontrado, no dia 19 de agosto de 2022 — sete dias após o desaparecimento. Segundo a advogada, a família dos réus vivem, de certa forma, “presos” em São Gabriel:


— Eles se mantêm o máximo possível em suas casas, só saindo para o trabalho e para a escola, devido às manifestações. [...] As famílias, infelizmente, estão sendo "julgadas" pela sociedade e sofrendo as agruras de uma acusação injusta. Mas, todos eles acreditam que a JUSTIÇA será feita e os acusados serão absolvidos, porque não mataram Gabriel.


Ainda segundo ela, os familiares organizam viagens semanais à Capital para visitar os acusados. Mesmo sem condições financeiras, as famílias (ou apenas alguns deles) vão a Porto Alegre uma vez por semana, para matar um pouquinho da saudade e angariar forças para darem continuidade.


Ao ser questionada sobre a linha de defesa, ela preferiu não se pronunciar.


Já para a defesa do segundo-sargento Arleu Junior Jacobsen,quem matou Gabriel está solto. Os advogados Mauricio Adami Custódio e Ivandro Bitencourt Feijó dizem que o assassino de Gabriel teria utilizado de meios para incriminar os policiais. Segundo os advogados, a jaqueta que Gabriel usava na noite em que desapareceu, encontrada no primeiro dia de buscas, foi plantada no local.


— O assassino conhecia muito aquele local onde o corpo foi encontrado e cruzando a informação que ele (Gabriel) teria sido deixado lá, pelos policiais, ficou fácil imputar a culpa a eles. Com o passar das investigações, seu assassino não imaginava que o caso assumiria tamanha repercussão.  Por isso ele precisou vincular a jaqueta no local, para que as pessoas acreditassem que o corpo de Gabriel foi deixado pelos policiais. Porém, a verdade veio à tona e mostra o que sempre afirmamos: Arleu é inocente.


Além de inocente, Arleu é descrito pela defesa como “um homem que tem fé.” Na última visita realizada ao PM, no dia 4 de julho, ele reafirmou a inocência aos advogados:


— Ele ora muito. Acredita em Deus e de uma ou outra maneira, mentaliza a forma de fazer as pessoas acreditarem na sua inocência. Por todas as maneiras que lhe foi possível ele tentou falar, expressar, provar que não fez mal algum ao Gabriel. Ele não desacreditou sua fé, porque ele é inocente. [...] Dentre muitas coisas, ele diz: ‘eu sou inocente. Por mais que o tempo passe, não deixarei de ser inocente. É o tempo de Deus. Ele é sábio.’ A expectativa de um homem de fé está na mesma medida da verdade. Entrar na sala do foro, pelos Tribunais, onde o espaço de sua voz puder chegar e gritar que ele é inocente.


Já a família de Jacobsen, segundo a defesa, carrega as dores e são massacrados juntos dele. Apesar de tudo, acreditam na inocência do réu.


 — Poucas pessoas se perguntam, mas ele também tem filhos pequenos, que nunca mais viu. A família dele respeita profundamente a dor da família do Gabriel, como não poderiam deixar de sentir essa dor que não se cura. Isso não significa que aceitam a incriminação do Arleu. Todos são julgados com ele. Cumprem ‘uma pena’ que não merecem nem muito menos ele. Arleu tem apoio daqueles que o amam e acreditam na sua inocência. A família dele jamais o abandonou, seja em orações ou em pequenos gestos que sobraram ao longo de dois anos. Ele é inocente e DEUS está mostrando isso a cada dia que passa, mesmo de dentro da prisão.


Quando questionado sobre a linha de defesa adotada, os advogados respondem:

– A defesa sempre afirmou que o verdadeiro assassino de Gabriel está solto. Provamos na Justiça Militar por provas técnicas irrefutáveis e testemunhas idôneas, o erro da autoria imputada a ele, nas investigações. Uma a uma, as provas da defesa destruíram as versões que foram divulgadas no começo de tudo. Provamos que a jaqueta do Gabriel foi colocada meticulosamente por alguém que queria incriminar os policiais. Os drones da Polícia Civil captaram essas imagens. A forma como a jaqueta foi colocada, dentro de um raio onde as buscas já ocorriam, revela que esse fato, criado para que as equipes de busca focassem lá, visando reforçar a ideia de que os policiais estiveram na região com ele, portanto, seriam eles os homicidas. Porém a defesa provou o contrário. Gabriel estivera lá naquela localidade muitas outras vezes. Conhecia o “lava-pés”. Muito jovem, ele já tinha ido lá, sozinho, anteriormente. Quando olhamos para o encontro do corpo, tudo se conecta a forma como ele estava depositado. Em pé! Quem escondeu seu cadáver conhecia a vegetação, o local. Já quanto a suposta agressão ao Gabriel. A imprensa publicou diversas entrevistas da “testemunha ocular”. Ela se desmente por si mesma. O curioso de tudo é que ela prestou mais de uma versão na delegacia. Nestas versões, contraditórias, somente na última, ela afirma o golpe de bastão. Nós sabemos por quais razões. Certamente será dito no momento adequado, dentro do processo. Ou melhor, já afirmamos em julgamento isso. As imagens e as fotos mostram ele (Gabriel) caminhando, andando em direção à viatura. A defesa provou que essa acusação não para em pé. São horas e horas de depoimentos e diversas provas materiais que apontam no sentido contrário da culpa.


Acusações na Justiça Comum e Militar

Os policiais estão presos desde o dia 19 de agosto no Presídio Militar em Porto Alegre, onde respondem na Justiça Comum por homicídio triplamente qualificado. A denúncia foi feita pelo Ministério Público, que também denunciou o trio por ocultação de cadáver e falsidade ideológica na Justiça Militar.

Nesta esfera, apenas soldado Cléber Renato Ramos de Lima foi condenado a um ano de reclusão por falsidade ideológica. Foi ele o responsável por inserir informações falsas no boletim de atendimento da BM após o jovem ser encontrado. O soldado Raul Veras Pedroso e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen foram absorvidos. O MP declarou que iria recorrer da decisão.

Em nota, Rejane Lopes, advogada da família de Gabriel, diz que todos aguardam “esclarecimentos sobre as circunstâncias daquele trágico dia”:

"Os interrogatórios dos três réus no caso Gabriel serão realizados no dia 9 de agosto, após terem sido reagendados devido às chuvas e enchentes que assolaram o Estado do Rio Grande do Sul. Família, amigos e a comunidade local aguardam por mais esclarecimentos sobre as circunstâncias daquele trágico dia, na esperança de que a justiça seja feita."

O caso

Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, desapareceu por volta da meia-noite do dia 12 de agosto de 2022, no Bairro Independência, em São Gabriel. Por volta da meia-noite, uma moradora teria chamado a Brigada Militar (BM) após o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local. Os policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. Depois disso, o jovem não foi mais visto.

O corpo de Gabriel Marques Cavalheiro foi encontrado no dia 19 de agosto, em uma barragem na região conhecida como Lava pé. Os três policiais militares que abordaram o jovem foram presos na noite do dia 19 de agosto, e foram encaminhados ao Presídio Militar de Porto Alegre, onde estão presos desde então. 


O laudo do exame de necropsia apontou que Gabriel morreu devido a uma hemorragia interna na região do pescoço, provocada por uma agressão, e que não havia indícios de afogamento.


Leia mais detalhes do caso aqui.

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