Foto: Rogério Schmidt Jr. / Rádio Independente
O motivo do acidente com um ônibus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que vitimou sete estudantes do curso de Paisagismo do Colégio Politécnico, ainda não foi determinado pelas autoridades e continua sendo alvo de investigações e especulações das hipóteses.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Nesta segunda-feira (7), a UFSM suspendeu todas as viagens com os veículos da instituição e abriu sindicância interna para avaliar a situação e analisar o histórico de viagens e possíveis reclamações anteriores. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul abriu inquérito para investigar oficialmente as causas.
Em entrevista ao programa F5 (CDN 93.5 FM), com apresentação de Deni Zolin, o engenheiro mecânico formado na UFSM, Luciano Soccol, reiterou a importância de evitar conclusões baseadas em suposições. Ele, que trabalhou por quatro anos na fábrica da Ford em Camaçari (BA) e na Santa Fé Vagões, em Santa Maria, diz que só a perícia do IGP e a investigação policial poderão apontar as causas do acidente com o ônibus da UFSM.
Na entrevista, porém, Soccol explicou como é o funcionamento dos sistemas de freio de caminhões e ônibus em lugares como a descida de Itaara para Santa Maria e, de forma hipotética, o que pode levar um veículos desse tipo a perder o controle e se acidentar durante a descida. Segundo ele, em geral, são três hipóteses: falha mecânica, imperícia do motorista ou a combinação de ambos os fatores que podem deixar o veículo desgovernado.
De acordo com o engenheiro, o primeiro ponto para compreender o que aconteceu em qualquer acidente é analisar o histórico do veículo.
– Um ônibus intermunicipal precisa passar por uma vistoria, de um engenheiro mecânico cadastrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). Além disso, eles são obrigados a passar pelos testes do Daer, por meio de um sistema de rodagem, que testa a frenagem do ônibus. Foi feito esse exame? Quem foi o engenheiro responsável? Não houve negligência nesse exame? Quem fez a manutenção, fez da maneira correta? – questionou o engenheiro.
Em relação às condições que o veículo precisa ter para frear durante uma descida íngreme como de Itaara para Santa Maria, Soccol salientou a importância de sistemas como o do freio motor. De acordo com o engenheiro, pela idade do ônibus da UFSM, que é de 2006, é possível que o veículo não tivesse este sistema.
– [Com o recurso], o motor consegue agir como um freio, para impedir que o caminhão ou o ônibus aumente a velocidade em uma descida. Você coloca em uma marcha reduzida e ele tranca a entrada ou a saída de ar do motor. Mas tem caixas de transmissão que não aceitam redução de marcha, em uma rotação acima do que o motor permite. [Nesse caso] você fica sem ação, não tem muito o que fazer. O freio motor é um recurso muito utilizado em caminhões e que realmente traz mais segurança e que é para poupar o sistema de frenagem. E o que acontece: com o tempo de frenagem, essas superfícies que estão em contato, estão funcionando por atrito. Então, começa a subir muito essa temperatura de contato, e o coeficiente de atrito começa a diminuir. Então, mesmo você pressionando o pedal do freio, ele não vai parar na mesma velocidade ou não vai conseguir parar, pois vai chegar a um momento em que o coeficiente de atrito é quase zero e o veículo não freia mais – concluiu o engenheiro.
Soccol relembra que, em alguns acidentes envolvendo caminhões pesados e ônibus que ficam desgovernados em descidas de serras, as causas podem ser falha mecânica, imperícia do condutor ou a combinação de ambos os motivos. Ele comentou que, se um caminhoneiro entra em uma descida em velocidade incompatível, acima do que deveria ser, o sistema de frenagem pode não ser suficiente para frear o veículo, pois vai ocorrer o superaquecimento por excesso de uso e o freio parar de funcionar.
- Os caminhoneiros sabem da regra que, se o caminhão consegue subir a serra em segunda marcha, ele deve descer o mesmo trecho na mesma marcha, para não sobrecarregar o freio - lembra o engenheiro.
Em outra hipótese, de falha mecânica, o freio pode deixar de operar e o motorista não ter o que fazer. E no terceiro caso, pode ocorrer a soma das duas causas, em que o freio pode não estar funcionando 100% e o motorista descer a serra em velocidade acima da ideal, o que pode deixar o veículo sem controle.
Confira a entrevista completa