"Foi desastrosa a ação, poderiam ter acalmado ele", diz defesa da família de produtor rural morto em abordagem da Patram em Santa Maria

Foto: Vinicius Becker (Diário)

A defesa da família de Valdemar Both, 54 anos, falou pela primeira vez após a morte do agricultor em abordagem da Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), na tarde de terça-feira (1º), no distrito de Palma, em Santa Maria. O advogado ​Marcio Batista Obetine falou ao F5, programa com apresentação de Deni Zolin da Rádio CDN (93.5 FM) nesta sexta-feira (4) sobre a atividade que era realizada por Valdemar e sobre a investigação. 

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Segundo Obetine, Valdemar era agricultor, fazia limpeza de terrenos e conserto de máquinas para vizinhos e conhecidos, além de trabalhar com madeira, como o corte de eucalipto para lenha. Conforme explicação da defesa, em conversas com vizinhos, os policiais estariam à procura de outro produtor rural, que seria o dono da propriedade rural onde Both alugava a casa e o galpão, no dia em que foi morto. A informação também foi confirmada pela Brigada Militar. A Patrulha Ambiental teria ido até o local averiguar uma denúncia de crime ambiental. Obetine questiona em que condições foi autorizada a entrada da viatura da Brigada em uma área interna da propriedade.

– Pelo menos cinco ou seis pessoas, esses policiais interpelaram e perguntaram sobre esse agropecuarista, proprietário das lavouras e do local.  

Nas imagens obtidas pela câmera de segurança da propriedade, o advogado diz que Both recebe os policiais com um sorriso. São três horas de imagens que serão disponibilizadas à Polícia Civil. Obetine explicou que repassou as gravações a um técnico especializado para melhor qualidade do áudio e vídeo, além de criação de cópias. Os arquivos foram gravados minuto a minuto na propriedade: 

– O seu Valdemar recebe eles (PMs) sorrindo nas imagens que achamos. Essas imagens serão disponibilizadas ao Ministério Público, Polícia Civil, e caso Justiça Militar solicitar, também entregaremos. A princípio, tem áudio na câmera. E isso vai ser possível perceber, por exemplo, se ele pega o machado, com tiver melhora no áudio e imagem. Se foi legítima defesa, a família quer saber e vai entender também. Foi desastrosa a ação. Não quero condenar ninguém, mas foi desastrosa. Acredito que poderiam ter acalmado ele. Poderiam ter tido outra abordagem, tentado acalmar ele. Pedido para chamar um vizinho ou conversar com um advogado.

Obetine reforça que a investigação precisa ser criteriosa e imparcial. Além disso, questiona a abordagem dos militares, bem como o uso de armas não letais: 

– Aquela área ali tem patrulhamento direto, todos conhecem e sabem disso. Eu concordo com o fato de que nenhum brigadiano sai para matar. Tenho certeza que aqueles dois policiais gostariam de estar de volta para casa no final do turno. Mas se eles têm esse tipo de armamento não letal, por que não estavam usando? Tem várias questões de legítima defesa, que ele partiu para cima com um machado. Acho que essa informação é válida, mas não agora. Acho que o inquérito deve ser sigiloso como determina a lei. A ação em si pode ter diversos erros. Acredito que precisa ser investigado com imparcialidade. É um inquérito muito caro para a sociedade. 

Sobre a utilização de madeira para venda, Obetine diz que Both apenas fazia o uso de eucalipto. Durante a semana, o advogado também recebeu outros relatos de abordagem policial "rude" com produtores rurais: 

– Ele não tinha nenhuma madeira protegida por lei, somente eucalipto. As motosserras tinham licença. Além disso, diversos produtores entraram em contato dizendo que alguns policiais entram nas propriedades como se fossem criminosos, são rudes com os proprietários. 

Na câmera, localizada na área externa da propriedade, que gravou a ação, é possível escutar as conversas e discussões de Valdemar Both com os policiais e, em seguida, os disparos: 

– O que vemos nas imagens é ele entrar no galpão sem nada nas mãos. Ele entra gesticulando, esbravejando, xingando, sendo mal-educado com os policiais. Se ele pega alguma coisa na mão, só quem sabe isso são os policiais que estão vivos e o seu Valdemar que está no cemitério. Ele chuta uma caixa e dá um barulho forte. Temos um disparo, seu Valdemar grita, e mais dois disparos, ele grita e cai morto, fica tudo em silêncio. Tenho certeza que esses policiais também não estão dormindo, que eles têm família e estão passando por uma situação extremamente difícil. 

Quanto ao contato com Polícia Civil, Obetine explica que ainda não teve nenhum contato com a polícia sobre a investigação: 

– Não tive acesso ao laudo ainda. Não posso afirmar que foi legítima defesa por conta dessas coisas. O que vai determinar vai ser esse laudo da necropsia. Vou pedir acesso aos laudos para autoridade policial. A família dele quer uma resposta. Até agora, nem a Polícia Civil nem a Brigada Militar entraram em contato comigo. Quem entrou em contato fui eu agora de manhã (de sexta). 

Segundo o advogado da família, Valdemar Both teria ainda de trabalhar só mais dois anos para se aposentar. Ele estaria juntando dinheiro para guardar para emergências. O desejo dele era voltar a morar em Vista Gaúcha, no norte do Rio Grande do Sul, após aposentadoria. 

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Posição da BM

Ainda na quarta-feira (2), a Brigada Militar se manifestou por meio de nota. Um inquérito foi aberto para investigação. Os policiais teriam sido surpreendidos por golpes de machado. 


"Durante o atendimento a uma ocorrência de crime ambiental, uma guarnição do 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar foi surpreendida com golpes de machado pelo indivíduo suspeito da infração, ao não aceitar a ocorrência imposta.

Diante do risco iminente à integridade física da equipe, houve a necessidade do uso da arma de fogo para conter a ação e preservar a vida dos policiais militares, o que infelizmente resultou no óbito do indivíduo.

Os devidos procedimentos foram instaurados para apuração dos fatos.

A Brigada Militar reafirma seu compromisso com a proteção da sociedade, o respeito aos direitos e garantias fundamentais e o cumprimento da legislação vigente."


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