Onda de furtos de fios elétricos gera prejuízo e insegurança em Santa Maria; poder público promete ação contra receptadores

Autor: Rian Lacerda

Onda de furtos de fios elétricos gera prejuízo e insegurança em Santa Maria; poder público promete ação contra receptadores

Foto: Vinicius Becker (Diário)

Uma onda de furtos de fios de cobre e cabos elétricos tem gerado prejuízos e mobilizado as autoridades da segurança em Santa Maria. Os casos vêm impactando comerciantes, moradores e serviços públicos. O crime,que seria praticado, principalmente, por dependentes químicos para sustentar o vício, segundo representantes da segurança, alimenta um mercado ilegal de receptação e já soma 163 ocorrências registradas pela Polícia Civil na cidade ao longo deste primeiro semestre de 2025. Em resposta, uma força-tarefa envolvendo forças policiais e secretarias da prefeitura foi mobilizada, com operações focadas na prisão dos autores e, especialmente, na fiscalização das recicladoras que compram o material furtado. Somente no ano passado, este tipo de crime levou o Executivo a gastar R$ 500 mil.


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"É cansativo, é desmotivador"

Foto: Arquivo Pessoal


O rastro de prejuízo deixado pelos furtos pode ser constatado em  diferentes regiões da cidade. Proprietária do DearSanta Café & Bistrô, Georgia Fogaça foi vítima duas vezes em um intervalo de onze dias. Na primeira, em 7 de julho, levaram 30 metros de fios. Ela reforçou a segurança com concertinas e spikes, mas, no dia 18, os ladrões retornaram e furtaram mais 30 metros. O prejuízo total, segundo ela,  aproxima-se de R$ 10 mil, somando custos de material, mão de obra, novos equipamentos de segurança e dois dias de faturamento perdidos em plena alta temporada.  

 

– É desmotivador, muito mesmo! A gente se sente de mãos atadas, inseguro. Se isso acontecer de novo, a gente não vai aguentar – desabafa Georgia. 

 

A situação se repete em outros pontos. Ricardo Braida, sócio da Academia Supreme, teve os fios instalados para placas solares, furtados duas vezes em apenas 15 dias.

Foto: Mateus Rossato (Diário)

 – A gente fez o BO (Boletim de Ocorrência), vamos tentar pegar câmeras, mas a receptação em Santa Maria está absurda – afirma o empresário. 

 

A ação da Brigada Militar 

A Brigada Militar (BM) intensificou as ações para coibir esses crimes. Segundo o subcomandante do 1º Regimento de Polícia Montada (RPMOn), major Antonio Marcos Silveira Moreira, foi criada uma patrulha especializada para atuar exclusivamente no combate a este tipo de furto. Além disso, a BM deflagrou a "Operação Fios e Cabos" com foco nos receptadores.  


– Estamos com nossas atividades de inteligência para a identificação dos autores, dos locais e horários – afirmou ele. 

Ele descreve o perfil dos autores dos furtos:

 – Geralmente, esse tipo de crime é cometido por andarilhos, na sua maior parte moradores de rua, usuários de droga. 


Mapeamento ajuda no combate ao crime

Mapa ajuda as equipes de segurança a saber onde os crimes são mais praticadosFoto: Vinicius Becker (Diário)

A prefeitura de Santa Maria trata o problema como uma questão complexa que envolve segurança, saúde e assistência social. Um levantamento de 2024 estimou que os gastos do Executivo com reparos na iluminação pública decorrentes de furtos giram em torno de R$ 500 mil por ano. O Executivo reforça que o crime gera insegurança e resulta na interrupção de serviços essenciais, como em escolas e unidades de saúde.


Segundo Sandro Nunes, secretário adjunto da pasta de Segurança e Ordem Pública, a estratégia municipal é de atuar em múltiplas frentes, com um foco principal: atacar a causa do problema, que é a receptação do material furtado.  

 

– A gente está tentando atacar a causa. E a causa hoje são as recicladoras. O município hoje está em cima disso – afirma Nunes. 


Para isso, um trabalho de inteligência da Guarda Municipal mapeou todas as recicladoras e pontos de receptação da cidade. Com essas informações, são realizadas operações conjuntas com outras secretarias e órgãos, como a de Licenciamento e Desburocratização (Seld) e a Vigilância Sanitária, para fiscalizar a legalidade desses estabelecimentos. A ideia é fechar as portas de quem opera de forma irregular e compra o material furtado. 

 

Para mudar o cenário e aumentar a penalidade, a prefeitura passou a levar à Polícia Civil, no momento do flagrante, pareceres das secretarias de Saúde e da Educação que calculam o "prejuízo social" do crime quando praticado em locais públicos. 

Foto: Vinicius Becker (Diário)

– Levamos para eles o prejuízo causado ao município e à comunidade hoje de um posto de saúde que fecha, que deixa de assistir uma comunidade de 6 mil pessoas, a perda de vacinas. O prejuízo quando a escola tem que se fechar – detalha Nunes. 


O secretário adjunto confirma que os furtos seriam cometidos por dependentes químicos para sustentar o vício e que, em muitos casos, os mesmos que furtam seriam beneficiários de programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família. Ele esclarece que, embora os autores ajam de forma independente, eles alimentam uma rede maior por trás da venda do cobre, que pode estar interligada ao tráfico de drogas, já que o dinheiro oriundo desse material específico, muitos utilizam para a compra de entorpecentes.


Foco nos Receptadores
Para o delegado regional de Santa Maria, Sandro Meinerz, a raiz do problema é clara.


– O problema existe, basicamente porque existe um mercado clandestino que adquire, que compra, que recepta esses produtos – afirma.


Segundo ele, as delegacias da cidade investigam não apenas os furtos, mas também os crimes de receptação para dar uma resposta mais firme ao problema. E detalha o perfil dos autores desse tipo de crime: 

– Infelizmente, os que furtam, a maior parte deles tem um perfil de serem moradores de rua, pessoas extremamente pobres, dependentes químicos e que, muitas vezes, ganham quantias muito pequenas, apenas para manutenção do vício.


O foco da investigação, portanto, é em quem lucra com o crime.


– Quem ganha nessa cadeia criminosa, são os receptadores e é isso que nós estamos trabalhando para endurecer o tratamento para essas pessoas – finaliza Meinerz.

Durante todo o ano passado, foram 477 registros de furtos de fios. Para tentar coibir a pratica, no início deste mês, a Secretaria da Segurança Pública promoveu a 74ª edição da Operação Fios e Cabos na cidade. Na ocasião, cinco locais foram alvos da ação, que apreendeu mais de três toneladas de fios receptados. Uma pessoa foi presa em flagrante e encaminhada para a delegacia. Também foram lavradas quatro notificações administrativas do Corpo de Bombeiros Militar. A ação envolveu 31 servidores das forças de segurança e contou com a colaboração da RGE e da operadora de telefonia Vivo. 


Aumento de 14% no Estado

Foto: Vinicius Becker (Diário)

A RGE, concessionária responsável pela rede de energia de Santa Maria, informou que, entre janeiro e junho de 2025, registrou 346 ocorrências de interrupções por furtos de fios em sua área de concessão, um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2024. No entanto, a empresa afirmou que, em Santa Maria, houve apenas uma ocorrência em 2024 e nenhuma em 2025 que tenha causado interrupção de energia. Contudo, não informou sobre ocorrências em fios que fazem ligação com imóveis. A RGE reforça que atua em parceria com a Polícia Civil para coibir a prática. 


Endurecimento da lei

Uma nova legislação federal (PL 4.872/2024), já aprovada pelo Congresso Nacional, promete endurecer as punições. A pena para o furto de fios passará de um a quatro anos para dois a oito anos de reclusão. A pena para o crime de receptação qualificada será aplicada em dobro. O projeto também prevê punições mais severas se o crime for cometido durante a calamidade pública. 


Como denunciar

Para auxiliar na redução de crimes e na atuação dos órgãos de segurança, o cidadão pode denunciar qualquer atividade irregular pelo telefone 181 (Disque-Denúncia) ou pelo formulário disponível no site Denúncia Digital 181. O sigilo é garantido. Em Santa Maria, a prefeitura reforça que denúncias ou informações úteis sobre ocorrências de furto de fios podem ser repassadas ao Ciosp, via 153, à Brigada Militar, pelo 190 ou à Polícia Civil, pelo 197.

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